O cenário de captação da caderneta de poupança no Brasil tem apresentado sinais de alerta, especialmente para o setor da construção civil. Em 2024, o volume de saques superou o de depósitos em mais de R$57 bilhões, indicando uma tendência de retirada líquida que se intensificou desde 2020. Essa retração preocupa, pois a poupança é uma das principais fontes de financiamento para o crédito imobiliário, especialmente no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que atende grande parte da produção de médio e alto padrão.
Com a redução da captação líquida, os bancos enfrentam maiores restrições para a concessão de crédito habitacional, o que afeta diretamente o ritmo de lançamentos e a viabilidade de novos empreendimentos. Além disso, as taxas de juros mais elevadas e o aumento do custo de vida têm levado muitas famílias a resgatar seus recursos aplicados, agravando ainda mais o problema. Para incorporadoras e construtoras, isso se traduz em um ambiente de maior cautela, tanto para o planejamento quanto para a execução de projetos.
Diante desse contexto, o setor tem buscado alternativas de financiamento que reduzam a dependência da poupança. Uma das propostas em discussão envolve a criação de um novo modelo de funding para o crédito imobiliário. A ideia é estruturar um sistema baseado na emissão de títulos financeiros com características mais flexíveis, como os certificados de recebíveis imobiliários (CRI), que permitam maior captação no mercado de capitais. Além disso, há também sugestões de ajustes regulatórios que possam estimular fontes complementares, como a Letra Imobiliária Garantida (LIG) e os fundos imobiliários voltados à produção.
O debate está em andamento entre representantes do setor, agentes financeiros e órgãos reguladores, como o Banco Central. Ainda sem definições concretas, essas propostas visam garantir maior previsibilidade e estabilidade para o financiamento habitacional, preservando o ritmo de produção imobiliária mesmo em momentos de baixa captação da poupança. Para os próximos meses, o setor acompanha com atenção os desdobramentos dessas discussões, que podem moldar o futuro do crédito imobiliário no país.
A busca por novas formas de financiamento representa um passo importante para fortalecer a resiliência do setor imobiliário diante de oscilações econômicas. Embora ainda em fase de discussão, as alternativas ao modelo tradicional baseado na poupança apontam para um futuro mais diversificado e menos dependente de um único instrumento de captação. A consolidação dessas propostas será essencial para garantir a continuidade dos investimentos, a expansão da oferta habitacional e a sustentabilidade do mercado da construção nos próximos anos.