Franz Heep, um arquiteto europeu com formação racionalista, desempenhou um papel significativo na criação de tipologias habitacionais modernas em São Paulo nos anos 1950. Imigrando para o Brasil em 1947, ele trouxe consigo uma bagagem de experiência em obras públicas, adquirida durante seu trabalho com Adolf Meyer em Frankfurt, e influências francesas de renomados arquitetos como Mallet-Stevens, Auguste Perret e Le Corbusier, com quem colaborou durante sua estadia em Paris.
Inspirado pelos princípios da Bauhaus, Heep concebia a arquitetura como um instrumento de racionalização da produção, enfatizando processos de industrialização, padronização de componentes e detalhamento do projeto. Ele via a cidade como um organismo auto-regulável, livre de contradições econômicas e sociais, e se via como um técnico capacitado para atender às suas demandas.
Trabalhando para o mercado imobiliário de São Paulo, Heep ajudou a estabelecer um padrão de excelência arquitetônica na região central e no bairro de Higienópolis, aproveitando um mercado efervescente de construção civil alimentado pelo processo de modernização e crescimento da cidade. Em colaboração com construtoras como Otto Meinberg Engenharia e Construção S.A. e Auxiliar, dos irmãos Aizik e Elias Helcer, ele deixou sua marca ao introduzir elementos como o brise-soleil nas fachadas ensolaradas, conferindo-lhes modulação, movimento, escala e ritmo.
Um de seus empreendimentos emblemáticos foi o Araraúnas, um edifício compacto e inovador que ganhou grande popularidade durante os anos 1950. Agraciado com o Grande Prêmio da 3ª Bienal Hispano-Americana de Arte em Barcelona em 1955, o Araraúnas destacava-se por seus corredores projetados com elementos vazados para garantir luz e ventilação, além de um pequeno terraço que originalmente protegia a sala da intensa luz solar.
No entanto, a história do Araraúnas se entrelaça com a trajetória do Minhocão, um elevado de 3,4 km inaugurado em janeiro de 1971, que atravessa importantes vias no centro de São Paulo. Esse evento teve um impacto significativo na região central, causando uma série de mudanças. Inicialmente, o tráfego incessante afetava drasticamente a qualidade de vida dos moradores vizinhos, e embora medidas tenham sido tomadas para limitar o trânsito durante a noite e aos domingos, o dano já estava feito. A região perdeu valor e os edifícios, incluindo o Araraúnas, começaram a ser negligenciados, independentemente de sua qualidade arquitetônica, marcando um período de deterioração na área central de São Paulo.