Ocorre nesta semana o encontro de junho do Comitê de Política Monetária (Copom). Será a quarta reunião das oito agendadas para 2024. Após sete cortes sucessivos na taxa referencial Selic, seis deles de 0,50 ponto percentual, não se descarta a hipótese de que o Copom reduza a Selic em apenas 0,25 ponto percentual. Ou que, em uma hipótese mais dura, mantenha a taxa inalterada em 10,50% ao ano. Se confirmada, a estabilidade vai representar uma guinada na política monetária.
No fim de abril, o Relatório Focus indicava que a mediana das estimativas para a Selic em dezembro era de 9,00%. Seis semanas depois, na edição mais recente, o prognóstico dos juros no fim do ano havia subido para 10,25%.
Se houver um corte de 0,25 ponto percentual, a mediana das expectativas indica que o Copom passará o resto do ano apenas observando a situação, sem alterações na Selic. Ou seja, o Banco Central (BC) estará em uma posição parecida com a do Federal Reserve (FED), seu congênere americano: dependendo dos indicadores econômicos para formular a política monetária.
As expectativas de inflação deste ano e de 2025 começaram a subir com mais intensidade após alguns eventos que aconteceram na economia nos últimos meses. A partir de 2025, o governo mudou o regime de metas de inflação, e a meta passou a ser contínua em 3%, podendo oscilar entre 1,5% e 4,5% sem que seja descumprida. Na semana passada, os economistas do mercado financeiro estimaram que a inflação de 2024 somará 3,90% e, a de 2025, 3,78%. Ou seja, acima da meta central nos dois anos.
Para entender esse movimento, precisamos analisar o contexto do mercado nos últimos meses. Em meados de abril, o governo federal propôs reduzir as metas de superávit primário para as contas públicas dos próximos anos. Se confirmadas pelo Legislativo, as novas metas possibilitarão um aumento de despesas de cerca de R$ 160 bilhões em 2025 e 2026. Mais gastos, por sua vez, tendem a pressionar a inflação.
As enchentes no Rio Grande do Sul também estão pressionando a inflação, pois alguns itens de alimentação com origem no estado, como arroz, tendem a ter aumento de preços. O próprio Ministério da Fazenda já elevou sua estimativa de inflação por conta disso, assim como os agentes do mercado estão fazendo.
Houve também um “racha” na diretoria do BC na última reunião do Copom, quando aconteceu uma diminuição no ritmo de corte dos juros – fixando a Selic em 10,50% ao ano. Quatro diretores indicados pelo presidente votaram por um corte maior nos juros, de 0,5 ponto percentual, para 10,25% ao ano, mas foram voto vencido.
Por fim, vemos os quatro maiores bancos privados do país, o Itaú, o Bradesco, o Santander e o BTG Pactual, já não apostarem mais em corte de juros. “Esperamos que o Copom encerre o ciclo de cortes da taxa Selic em sua reunião de junho, mantendo a taxa base em 10,50% ao ano. De acordo com a ata de maio, apesar do largo dissenso, todos os membros do comitê concordaram em adotar uma política monetária mais contracionista, mais cautelosa e sem indicação futura, em virtude do cenário global incerto e do cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas [de inflação] desancoradas”, disse a equipe do BTG.
Portanto, não se descarta a hipótese de que o Copom reduza a Selic em apenas 0,25 ponto percentual. Porém, percebemos que o mercado tende para uma hipótese mais dura, mantendo a taxa inalterada em 10,50% ao ano. Se confirmada, a estabilidade vai representar uma guinada na política monetária.